quinta-feira, 19 de março de 2009

Não mais, Pierrot.




Terça de Carnaval. Festejos ao som de frevo, enfeites e fantasias decorando o ambiente. Alguns mascarando, talvez. Escondendo algo que já não quisera que se fosse percebido. Pierrot entra no pátio. Belas moças presentes no recinto. Uma chamou-lhe a atenção, mesmo que rapidamente. Uma menina de vestido verde reluzente. Fantasiada de fada. Ou não. Pierrot não tinha certeza do que era. Porém, não era esse o verdadeiro foco dos olhares do jovem. Ela estava lá: Colombina. Esbanjando simpatia e beleza pelo salão. Fazendo-se notar por onde passava. Exalando seu suave perfume, que já enfeitiçara o alegre Pierrot. Pierrot estava, novamente, compenetrado na jovem moça, a espera de um aceno. De um sorriso, quem sabe. Espera que perdurava por tempos. Nunca com a resposta ansiada. Eis que surge um aceno. E, pasmem, um sorriso também. Uma felicidade não antes sentida toma o coração do jovem rapaz. Ajeitou-se, intrépido, e rumou pelo caminho que tanto desejava. Chegando lá, notara o real endereço do cumprimento. Não, não era ele o destinatário. Era a Arlequim tal saudação. A antes felicidade torna-se uma frustração sem tamanho. Não mais queria ficar. Decidiu, então, ir para a esquina esquecer. De repente, uma mão o toca. E uma voz pede que não vá. Era a menina do vestido. Pierrot, mesmo assim, já havia se decidido. Ela insistiu. Relutava por sua presença no pátio. De tão persistente, conseguiu convencê-lo. O mancebo, pela primeira vez, vidrou realmente os olhos na moça. Era linda mesmo. Existia algo diferente em seu olhar. Algo nunca presenciado por ele. Então, para o baile voltaram. Pierrot sentia-se novamente feliz. Percebera que outras esquinas também existiam pela avenida. Na quarta-feira, pensou em se desfazer das cinzas que a tanto tempo estavam em seu coração. Pensou melhor. Não, não iria mais. Viu que era um pecado simplesmente excluir tudo o que viveu, tudo o que sentiu. Elas permaneceriam lá. Só que em um espaço diferente. Então, Carnaval se foi. E com ele o que mais marcava o jovem garoto. Um dia novo raiou. O dia em que Pierrot deixou de chorar pelo amor da Colombina.