terça-feira, 3 de novembro de 2009

João

Não estava bem, era evidente. João se ressentia de alguma coisa que fizera por esses dias. Percebia que não era o mesmo. Como se não houvesse mais sentimentos em seu interior. Referências passadas se extinguiam assim como perspectivas futuras. Falta de esperança. Talvez, nem seja esse exatamente o vocábulo. Há uma ausência sentida. Só que ainda não se soube discernir de qual vazio se trata. Na verdade, sabe-se de onde provém o vácuo citado. Tudo bem que não surgiram muitas vertentes a serem seguidas. Tudo bem que não foram capazes talvez. Mas, João não as culpa. A culpa é dele. E apenas dele. Todo o bem que tanto prezava se esvaia aos poucos. Era mais cômodo ser assim. Mais prazeroso em diversas oportunidades. Simplesmente, não estava mais disposto. Não fazia isso por mal, apenas, segundo ele, se adaptou ao que é exigido. Noite na Taverna foi retirado da cabeceira. Álvares de Azevedo deixou de ser lido. Um bem estar meramente hedonista aparentava ser o estado quisto. Expressões latinas, bucólicas e efêmeras surgiam em meio aos seus pensamentos. Achava que já não mais podia. Ou pior, tinha certeza. Tornara-se frio... Passou a calcular. Resolvia equações quilométricas. Fugia da mínima possibilidade de marcar a alternativa errada. Não que quisesse marcar alguma. Era só por precaução. Passou, também, a conjugar. Em todos os tempos e em todas as pessoas. Atentava para a transitividade. Concluía. Há verbos que não necessitam de complemento para serem conjugados. E João parecia mesmo ser um desses.